terça-feira, 24 de março de 2015
O beijo gay da novela das 21h
Semana passada o tema virou polêmica em todo lugar por onde andei, na faculdade em que trabalho, nas redes sociais, nos sites, nas esquinas, enfim, era o grande tema do momento. Esqueceram os coxinhas, os petralhas, até a Dilma ficou em segundo plano, pois era mais importante falar de duas mulheres mais velhas se beijando. O caso me fez lembrar a primeira vez que tive contato com o universo gay feminino. Uma amiga da faculdade havia se apaixonado por sua melhor amiga e descoberto sua sexualidade, e antes de saber a história toda ela vivia uma vida meio misteriosa nesse campo, algo que era muito corriqueiro duas colegas contarem suas intimidades, no nosso caso era diferente, ela parecia uma ostra. Até que um dia, diante das minhas muitas perguntas sobre sua vida pessoal, ela me chamou em um canto e me contou "Hilaine, meu namorado é a Mariana". Na hora eu percebi o grau de complexidade que aquela revelação significava para minha amiga de trabalho e faculdade, ela se abriu pra mim de uma forma tão dolorosa que não pude deixar de criar uma imensa e profunda empatia. Só então eu pude perguntar tudo que havia na minha cabeça sobre o que era ser gay, o que e como era nutrir sentimento tão profundo por alguém do mesmo sexo. Ela me respondeu simplesmente "a gente se apaixona por seres humanos, às vezes eles possuem o mesmo gênero que a gente". Inteligente, objetiva e muito perspicaz ela conseguiu traduzir em uma frase a beleza do significado do amor. Eu tinha lá meus vinte e poucos anos e tive a sorte de compreender que amor não tem regras, não tem pudores culturalmente e socialmente construidos, acontece e explode. Ao ver o episódio da novela em questão eu vi um casal, duas mulheres lindas que desde o começo da cena demonstraram uma cumplicidade comovente ao tratar de um problema vivenciado por uma delas. A outra a ouviu com atenção, ofereceu ajuda, a amparou, tocou-lhe o rosto de forma terna. Até que nós, espectadores, embalados pela voz de Maria Bethânia somos levados a um outro plano, um estado onde pouco importava se era homem ou mulher, pouco importava se eram jovens ou velhos, eu senti um arrepio na alma porque as duas grandes atrizes conseguiram demonstrar de forma plena e contundente o que é suporte emocional, cumplicidade e mais que tudo, amor. Lindo. E ainda perguntam se o exemplo seria adequado para o horário. Ora ora não seria esse o tipo de relacionamento mais desejado de tão raro que é em tempos atuais?