quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Cuidado, as mulheres pensam e consomem!

Semanas atrás encontrei uma amiga para um lanche e começamos a falar sobre assuntos referentes ao universo feminino: vaidade, conquista, inovação foram temas aboradados até que ela, uma mulher extremamente antenada com o universo midiático me chama atenção para uma determinada propaganda. Ela sabendo do meu campo de atuação, procurou minha ajuda para entender os seus sentimentos e sensações ao assistir a tal propaganda.

Nela, Gisele Bündchen faz uma pergunta ao marido e ela recebe uma negativa, logo em seguida ela faz a mesma pergunta, desta vez, usando apenas calcinha e sutiã e recebe uma afirmativa.

Minha amiga, uma administradora de empresas, jovem mãe, divorciada, e que nunca levantou bandeira para qualquer causa feminista me revelou que ficou incomodada, inconformada e completamente irritada com a peça publicitária. Afirmou que se sentiu ultrajada e que nunca na vida precisou de tal recurso para qualquer coisa... "O que esses publicitários estão pensando? Qual é a mulher nos dias de hoje que querem ser vistas como objetos sexuais?"


Hoje saiu a matéria no G1 intitulada "Governo quer suspender comercial de lingerie com Gisele Bündchen: Secretaria diz que recebeu seis reclamações contra a campanha da Hope.Vídeos mostram a modelo usando a sensualidade para resolver problemas"
 
Por outro lado, no campo das peças publicitárias de cervejas a Brahma inovou trazendo mulheres para o campo do consumo, no vídeo que está no ar, amigas estão juntas em um apartamento e veem seus namorados pela tv na arquibancada do estádio, eles brincam com o anagrama Braham / Amor... e elas partem pra cima das cervejas deles geladas na geladeira.
 
Na contramão de tudo que vem sendo vinculado no campo das publicidades de cervejas, esta peça coloca a mulher como consumidora, moderna, capaz de ficar com as amigas enquanto seu namorado está se divertindo num jogo de futebol, a rixa mulher versus futebol, ou a irritação das mulheres por causa da bebedeira deles fica pra trás e a mulher assume outra posição, mais indepentente e segura.
 
Para ver a matéria do G1 sobre a marca de lingeria HOPE, acesse http://g1.globo.com/economia/noticia/2011/09/spm-pede-suspensao-de-propaganda-de-lingerie-com-gisele-bundchen.html
 
Para ver a propaganda da HOPE clique ai embaixo
 
 
 
Para ver a nova propaganda da BRAHMA, acesse:
 
 

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Vende-se uma falsa etnografia

Semana passada participei de um evento no Rio de Janeiro organizado pela ABA (Associação Brasileira de Anunciantes) sobre Pesquisa e Inteligência de Mercado. Era o primeiro evento que participava desta instituição e confesso que estava um pouco ansiosa.

Tenho eventualmente feito algumas consultorias para empresas e tenho alguma experiência em pesquisas de mercado, mas nunca antes tinha feito qualquer contato com eventos desta ordem por pura falta de oportunidade.

Muitas palestras interessantes algumas meio arrastadas como qualquer outro congresso, mas uma em especial me chamou atenção pela pretensão e inventismo revelado.

Era um instituto de São Paulo que utiliza a tecnologia para fazer suas pesquisas, questionários, traillers com Internet são dispostos em locais movimentados para que os participantes tenham acesso a rede e possam responder seus questionários on line, até ai... ok.

Até que a palestrante nos mostra uma técnica chamada de "etnografia digital pontual" (acho que era esse o nome), seria uma inovação segundo a empresa, onde ao invés do pesquisador antropólogo participar do cotidiano e fazer seus relatos, poderações e análises, os próprios nativos (no caso, os consumidores) através de câmeras e celulares gravam o momento ou a situação que deverá ser estudada.

Ou seja, a palestrante justifica que primeiro, os nativos estariam muito mais a vontade do que se tivesse uma pessoa estranha acompanhando, segundo, ele teria a liberdade de mostrar o que quer, terceiro haveria mobilidade e rapidez pois os videos podem ser feitos em qualquer área do Brasil e poderia ser enviado pela Internet, e para finalizar o custo seria muito mais baixo, revela.

Ela mostra alguns trechos de vídeos gravados de uma pesquisa sobre alimentação no café da manhã. As mesas postas revelam cafés da manhã em algumas casas super equilibrados, e mais, os moradores com tempo de simplesmente sentar a mesa pra comer, o que começo a duvidar diante da vida corrida no cotidiano da maior parte das famílias brasileiras.

Uma pergunta surge na plateia, quanto custaria uma gravação destas? "Em média 2 mil reais por gravação", responde.

Entrei em choque.

Como assim, uma gravação sairia mais barato do que contratar um antropólogo? Eu duvido que empresas de mercado pagariam mais de 2 mil reais de diária a um profissional qualificado para fazer uma etnografia de um único dia.

Logo depois a palestrante justifica dizendo que depois os vídeos são mostrados a especialistas das áreas de antropologia, psicologia, sociologia entre outros para analisar as situações, e várias ligações são feitas antes e depois da gravação para que os participantes (consumidores) se sintam à vontade com a pesquisa e filmagem.

São vários pontos a se discutir que prefiro elaborar um post separado, mas uma coisa é certa: isto não é uma etnografia, é uma representação de um momento escolhido pelo pesquisado, completamente enviezado, e falso.

Primeiramente qualquer um de nós cuidaria intensamente da imagem que será apreendida, senão, por que mexemos no cabelo ou encolhemos a barriga na hora de sermos fotografados ou filmados? Outra coisa, por mais que o pesquisado queira investir em naturalidade ele não tem preparo, noção ou técnica para observar elementos que são contemplados em uma boa etnografica. Para dar um exemplo podemos citar os cheiros, a linguagem, a estrutura da casa (que não está presente no vídeo).

Um vídeo é o enquadramento de um cenário, onde atores vivem papeis em dadas encenações... ou seja, tudo é falso, tudo é fake, tudo é elaborado. Com a tecnologia digital essa encenação é ainda maior, uma vez que o botão de DELETAR nos permite apagar, refazer, tentar simplesmente captar o nosso melhor, aquilo que queremos que os outros vejam e aprovem.

O que deveria ser deletado era essa metodologia, que vende resultados impossíveis de serem alcançados.

Pra mim, ainda é algo muito mais sério é um exemplo de pura falsidade ideológica.

Revela também o desespero de empresas que investem em inovações para obter dados, fica claro que nem sempre uma inovação é algo positivo, deve-se antes de mais nada consultar pessoas experientes antes de entrar em roubadas deste tipo.

terça-feira, 6 de setembro de 2011

Palestra na Concessionária de Água de Campo Grande - MS ÁGUAS GUARIROBA






Pesquisa antropológica traça perfil de usuários com “gato” na rede  

Um estudo sobre os motivos que levam usuários de serviços públicos a manterem ligações clandestinas nos domicílios foi apresentado nesta manhã, 24/08, para os colaboradores da Águas Guariroba. A antropóloga Hilaine Yaccoub ministrou a palestra “Atirando o pau no gato” e apontou as conclusões de uma pesquisa antropológica, realizada no município fluminense de São Gonçalo, que buscou mapear o perfil do usuário com ligações irregulares de energia elétrica.

Para a realização da pesquisa, a antropóloga passou a viver no Bairro do Coelho – região considerada pobre em São Gonçalo (RJ) – para avaliar as ações de consumo dos moradores com “gato”, e traçar o nível de satisfação da comunidade com o serviço oferecido pela concessionária de energia elétrica. O levantamento foi realizado a convite da empresa responsável pelo serviço no município.De acordo com a pesquisadora a inserção na comunidade possibilitou a imparcialidade da população em responder questões relacionadas ao serviço.

Hilaine passou a utilizar o comércio local e a interagir com a comunidade para angariar conteúdo ao levantamento que aconteceu entre os anos de 2007 e 2008 na região que compreende cerca de 7,4 mil habitantes, conforme dados atualizados em 2005 pela prefeitura. A antropóloga conta que a companhia de energia elétrica apresentava índices de até 67% de perdas na localidade em razão dos gatos na rede. Segundo a estudiosa, diversos pontos levam ao problema dos gatos: desde questões culturais, de quem nunca pagou pelo serviço ou não prioriza o pagamento, até a falta de conhecimento que a empresa concessionária tem do perfil de seu cliente.

“A empresa também tem que ter vontade de se adaptar, de conhecer o seu cliente. Ela tem que entender suas aspirações, seus desejos, seus dramas, o que o atrapalha. Isso tem que ser absorvido pela empresa; tudo tem que ser valorizado para não competir com o mercado clandestino”, observa. Para ela não é vantajoso para as empresas investirem em tecnologia que dificulte os “gatos” sem “mudar o valor social”. E este valor social apontado pela antropóloga deve atender também os funcionários da empresa, garantindo a valorização do trabalho.

Hilaine complementa explicando que também é importante que os usuários conheçam o diferencial do produto oferecido para que todos saibam do valor agregado à qualidade do serviço. “No caso da água que chega à nossa torneira, ela é fruto de um mercado produtivo. Existem etapas e estas etapas exigem profissionais qualificados, exige estrutura da empresa, espaço físico, produtos químicos. E este tratamento é uma tecnologia”, afirma.

Fonte: divulgação interna