terça-feira, 19 de abril de 2011

Eu compro, logo sei que existo

Este é o título de um artigo escrito pelo sociólogo Colin Campbell onde demonstra como a formação e autroconstrução de nossas identidades sociais dependem de nossas escolhas em um mundo plural, onde existem várias opções de compra, consumo, experiências.


O autor demonstra que apesar do consumo ser visto como uma atividade fútil da vida social, através de um olhar mais atento a analítico pode indicar que existe uma gama de elementos centrais da cultura e da sociedade contemporânea. E mais, contrariando a teoria de outros autores que apontam para a falta de solução para crise de identidade na sociedade moderna (como por exemplo o filósofo Zygmund Bauman), para Campbell, o consumo é um caminho para solucionar esta questão.

Como?

Para o autor, tudo teve início quando ao procurar entender o consumo e suas dinâmicas percebeu que este tem muita importância na vida das pessoas. Ele conclui que muitas vezes, este esteja suprindo uma função muito mais importante do que apenas satisfazer motivos e intenções específicas que incitam atos individuais. Ou seja, o consumo está muito mais além da questão da necessidade e utilidade, ou até mesmo de regras sociais (a exigência da compra de um presente por exemplo quando se vai a um aniversário), para ele, o consumo está relacionado às questões do “ser e saber”.

Para Campbell o consumo moderno está mais ligado e enraizado no self (no “eu”), na expressão de si mesmo, tem mais a ver com os sentimentos e as emoções (na forma de desejos) do que com a razão e calculismo.

Por exemplo, é comum em nosso sociedade o desejo de se possuir celulares cada vez mais modernos com infinitas possibilidades tecnológicas… dessa maneira, ao parcelar em várias vezes pagando juros abusivos (mesmo que estes estejam embutidos na parcela mensal), estas pessoas na maioria das vezes não racionalizam o seu ato. Assim, compram os aparelhos e não possuem renda para pagar o acesso a internet por exemplo, ou não possuem dinheiro para alimentar os créditos, ou até mesmo não possuem computadores para descarregar vídeos e fotos. Mas então por que compram? E mais, logo depois que terminam de pagar as parcelas, um ano mais tarde, outros modelos foram lançados com outras características, e logo são objetos de desejo… e recomeça todo o ciclo.

Este indivíduo está errado?

Não, não se trata aqui de fazermos julgamentos morais. Campbell aponta que ao escolherem seus produtos, os indivíduos estão demonstrando suas identidades, seus valores. Talvez para este cidadão, ter um aparelho que seja visto como moderno, caro, esteticamente arrojado, revele o seu “eu” o self apontado pelo autor. Este consumidor quer estar atrelado a estes valores, e ser diferenciado de seus grupo, e ao mesmo tempo pertencer ao grupo daqueles que possuem os mesmo gostos, possivelmente, alguém de classe social mais valorizada em sua sociedade.

Portanto, devemos observar os hábitos e tentar entender as motivações que levam os indivíduos a realizarem tais ações, a fazerem determinadas escolhas. E a importância é relativa, o que pra alguns pode ser dinheiro jogado fora, ou desperdício, para outros pode ser dotado de uma importância central.

O que podemos perceber é que o consumo moderno é em sua essência individualizado, “esse é o valor extraordinário anexado a esse modo de consumo, juntamente com a ênfase colocada no direito dos indivíduos se decidirem, por si mesmos, que produtos e serviços consumir”(Campbell, 2006, p.49)

Assim, o consumo moderno está mais preocupado em saciar vontades do que em satisfazer necessidades. No caso exemplificado o consumidor poderia ter comprado um celular mais simples, condizente com seus recursos, lhe sobraria dinheiro para comprar créditos para o celular e dessa maneira o aparelho cumpriria o seu papel, fazer e receber ligações.

O que percebemos em nossa sociedade é que temos liberdade de fazermos nossas escolhas, podemos trocar de estilos, adotar diferentes modas, podemos trocar identidades e estilos de vida com a mesma facilidade que trocamos de roupa. Isto se tornou possível porque como Ewen e Ewen (apud Campbell, 2006) observam: “hoje não existem (…) regras somente escolhas”, portanto, todos podem ser qualquer um. Campbell chega a conclusão que as atividades dos consumidores devem ser entendidas como uma resposta à postulada “crise de identidade”e também como uma atividade que, na verdade, serve somente para intensificar essa crise.

No que se refere a formação da identidade, Campbell está tentando nos explicar é que diferente de outrora, como nos tempos da sociedade tradicional, época em que valores tradicionais eram mais importantes, quando por exemplo a filiação a determinada classe ou status de certos grupos, pertencimento a religião, ou família, quando a nossa identidade estava muito mais relacionada a posição que se ocupava em várias dessas instituições e associações (família, trabalho, religião, raça, etnia, nacionalidade, etc) era algo muito mais importante que o gosto pessoal, ou a vontade individual… neste modelo tudo era relacionado e funcionava em torno de valores tradicionais.

Slater (2002) também contribui para esta ideia ao afirmar que a sociedade pós-tradicional é marcada pela pluralização. No lugar de uma ordem segura de valores e posições sociais, há uma variedade e fluidez de valores, papéis, autoridades, recursos simbólicos e interações sociais a partir dos quais a identidade social de um indivíduos deve ser produzida e mantida,

Cada vez menos ancorada na tradição, na religião, no direito, etc, a identidade só pode nascer da escolha como apontou Campbell. Além disso Slater (2002) também aponta para a pluralidade de modos de vida na qual cada indivíduo precisa negociar identidades múltiplas e contraditórias à medida que percorre diferentes grupos, lugares, situações.

A identidade moderna acaba sendo melhor compreendida por meio da ideia do consumo. Escolhe-se uma identidade para nós mesmos na vitrine do mundo social pluralizado. Temos que produzir e vender uma identidade a vários mercados sociais a fim de ter relações íntimas, posição social, emprego e carreira. Os produtos e serviços adquiridos (tanto materiais quanto simbólicos) constroem nossa aparência e determinam nosso tempo livre e encontros sociais.

A publicidade neste contexto, segundo Slater (2002) fornece um “mapa da modernidade”, é ela que vende modos e estilos de vida, através da propaganda e marketing. São vendidos produtos que remetem a status sociais, assim como comportamentos.

Isso me faz lembrar o extinto programa Silvio Santos, Porta da Esperança, onde através de cartas (sim, naquela época se utilizam cartas como forma de comunicação), as pessoas faziam os seus pedidos. Ao serem selecionadas tinham suas histórias dramáticas contadas no programa, e um grande portal era disposto no centro do palco, um cortina grande imponente escondia o que havia por trás do portal, ao se ouvir a frase dita pelo apresentador “E vamos abrir a porta da esperança” poderia se descobrir (e se emocionar) caso o participante tivesse ou não seu pedido atendido. Pois bem, uma vez uma mulher bem simples pediu para a Porta da Esperança, um café da manhã de rico.

O Silvio Santos achou graça, e perguntou o que era um café da manhã de rico e revelou que ele era rico (o que todos sabem) e que o café dele tinha pão francês, queijo branco, manteira, uma fruta, e café com leite. Ou seja, bem comum a qualquer brasileiro. Mas ela olhando de forma duvidosa questionou e então para descrever o que ela queria disse: “eu quero um café da manhã de rico, igual ao que eu vejo na novela”

Pronto. Estava ali a explicação.

Voltamos ao nosso ponto. A novela vende uma imagem do que é ser rico, do que rico come, do que rico veste, do que os vários grupos se comportam, consomem, compram, etc. Assim, representações são vendidas e divulgadas através daquele veículo de massa, lançando modas, jargões, expressões, etc.

Novos modos de vida ou estilos de vida são vendidos, e junto com eles uma série de produtos e serviços. O modo de vida pode ser visto como uma forma por meio da qual o pluralismo da identidade pós-moderna é administrado por indivíduos (ou organizados) pelo comércio.

Para finalizar, vamos recorrer a um conceito do sociólogo Anthony Giddes que expressa muito bem essa questão:

“Modos de vida são práticas rotineiras, as rotinas incorporadas a hábitos de vestir, comer, maneiras de agir e ambientes preferidos para encontrar outras pessoas; mas as rotinas seguidas estão reflexivamente abertas para mudar à luz da natureza móvel da identidade. Cada uma das pequenas decisões que uma pessoa toma todos os dias… contribui para essas rotinas. Todas essas escolhas (bem como as maiores e mais importantes) são decisões não só sobre a forma de agir, mas também sobre a forma de ser. Quanto mais pós-tradicionais os ambientes em que um indivíduo se move, tanto mais o estilo de vida diz respeito à própria essência da identidade, sua construção e reconstrução. (Giddens apud Slater, 2002, p.89)

quinta-feira, 14 de abril de 2011

Troque seu cachorro por uma criança pobre

Animais cada vez mais humanizados aquecem o mercado pet



Alimentação balanceada, tratamentos estéticos e roupas personalizadas estão entre os produtos e serviços oferecidos



Roupas, tratamentos de beleza e alimentação balanceada. A primeira vista parecem produtos comuns para os consumidores, mas são algumas das opções que o mercado pet disponibiliza para os animais. A humanização dos bichos, tendência cada vez mais observada, levou o segmento a movimentar R$ 11 bilhões em 2010, de acordo com dados da AnfalPet. O valor representa um crescimento de 13% comparado a 2009, quando o faturamento foi de R$ 9,6 bilhões.

De olho no potencial de mercado, as empresas especializads ampliam opções para clientes que investem na saúde e no bem estar de seus pets, que muitas vezes ocupam o lugar de filhos. O Brasil é o segundo mercado em número de animais do mundo, perdendo apenas para os Estados Unidos. A população em geral conta com mais de 82 milhões de bichos. Com o crescimento a cada ano, os donos também modificaram suas buscas, que vão desde a roupa até a alimentação, passando por tratamentos estéticos e books fotográficos.

Para atender os consumidores que valorizam o visual dos animais, a Pet Center Marginal criou em 2005 a SP Fashion Pet. O evento conta com a participação de clientes da loja e é realizado a cada troca de coleção. A iniciativa promove parcerias com fornecedores de roupas para animais, que dão modelos para os bichos que desfilam. A ação faz sucesso e os clientes lotam a loja no dia do evento. “As pessoas têm satisfação em mostrar seus animais, que são quase filhos”, diz Eugênia Fonseca, Gerente de Marketing da Pet Center Marginal, em entrevista ao Mundo do Marketing.

Serviços estéticos ampliam variedade

A rede também trabalha com outros tipos de serviços a fim de atender a diferentes demandas dos donos que têm o ticket médio anual de R$ 1.800,00. O espaço conta com um Centro Estético para serviços como escova de chocolate e cauterização, além dos tradicionais banho e tosa. Durante os fins de semana, a fila de espera pode chegar a duas horas. Em relação aos preços, a variação existe entre raças e portes. Um cão de pequeno porte toma banho por R$ 20,00, enquanto o de grande porte não fica limpo por menos de R$ 180,00.

Para conquistar o cliente, a rede promove ações de relacionamento e de cunho social. Nas compras acima de R$ 150,00, por exemplo, o consumidor recebe um bônus de 10% do valor para utilizar no mês seguinte. A loja realiza ainda a campanha “Eu alimento um animal carente”, em que parte de toda ração vendida é revertida para uma instituição que ajuda animais carentes. “Além disso, firmamos o compromisso público do menor preço. Se o consumidor encontrar mais baixo, igualamos o valor e devolvemos 20% da diferença”, explica Eugênia.

Para os próximos meses, a Pet Center Marginal promete ainda mais novidades, entre elas um programa específico de seguro de vida para animais. “Estamos estudando essa possibilidade com uma seguradora, mas ainda não está fechado”, diz a Gerente de Marketing da empresa. No segmento de beleza está em fase de desenvolvimento um serviço semelhante à escova progressiva.

Tal dono, tal cão

Já a Dog Pop chegou ao mercado para atender a demanda dos donos de cachorro que gostam de música e arte. Diferente dos desfiles de moda que mostram ao vivo as tendências para o segmento, a marca é um e-commerce de roupas para cães. As estampas contam com variedades de bandas e músicos de rock, como The Beatles, Elvis, Rolling Stones, AC/DC e Ozzy Osbourne.

Criada há menos de um ano, a marca traz produtos feitos com 100% de algodão. Além da preocupação com a saúde dos bichos, a ideia é oferecer maior conforto. “Analisamos a tinta do silk e realizamos testes para oferecer um produto de qualidade”, diz Daniela Custódio, fundadora da marca, em entrevista para o Mundo do Marketing.

O site mantém divulgação nas mídias sociais, como Twitter e Facebook, e conta ainda com parcerias com blogs sobre cachorros, valorizando a presença na web. “A maior parte do público-alvo está na internet. São as pessoas que estão antenadas sobre os assuntos de moda, musica e pet”, diz Daniela. Entre as ações realizadas estão o sorteio de peças para seguidores e lançamentos sazonais, como estampas exclusivas para o show do U2, realizado em São Paulo, nos últimos dias.

Os próximos planos são a ampliação da grade de produtos para atingir raças maiores e a personalização de produtos, atendendo aquilo que o consumidor quer para seu cão. Outra iniciativa que deve começar ainda em 2011 é a venda em pontos de venda físicos. “A princípio vamos selecionar algumas lojas em cidades chaves para ver se o produto é bem aceito”, diz a empresária.

Cuidados com a alimentação

Uma novidade recente do setor é a comida balanceada oferecida pela Pet Delícia. A marca está no mercado desde dezembro de 2010 e quer promover uma mudança de hábitos entre os donos de animais, oferecendo uma refeição sem conservantes e corantes. “A ideia é trocar a ração seca, que utiliza química e subprodutos, pela Pet Delícia, um alimento mais saudável”, diz Roberta Camara, criadora da marca, em entrevista ao Mundo do Marketing.

Os alimentos são desenvolvidos sob orientação de zootecnistas e veterinários e podem ser encontrados nas versões congeladas ou frescas. Os sabores contam com as opções cordeiro, frango, carne e filhotes, em bandejas de 900 gramas. Em relação aos benefícios estão a diminuição da probabilidade de alergia, a fácil digestão e limpeza dos dentes, além de prometer deixar o cão mais ativo.

Com um investimento de R$ 500 mil, incluindo estrutura, regularização junto ao Ministério da Agricultura e o desenvolvimento do cardápio, a Pet Delícia pretende, agora, alcançar o mercado paulista. Outra ideia é a produção de alimentos para gatos. “Também desenvolveremos receitas para pacientes renais e diabéticos. A expectativa é que, em três meses, o produto esteja no mercado”, completa Roberta.


Fonte: Mundo do Marketing

Ainda sobre os "pobres"

Quais estratégias dão certo para a classe C?

Como entender o que os consumidores emergentes desejam

Muito se fala sobre o consumidor emergente, mas poucas empresas conseguiram entender os seus valores, desejos e necessidades. A baixa renda não compra mais apenas o que é necessário, mas também mostra interesse em adquirir produtos e serviços aspiracionais. O que antes era um sonho distante passou a ser visto como uma meta ao alcance de todos e, por isso, o esforço para obter o desejado é maior. Esta é a oportunidade para as empresas que souberem direcionar seu foco para este público.


Mas, afinal, o que funciona para a classe C? Na hora de comprar, há características que não mudam. A principal é a preferência por produtos reconhecidos como de qualidade. Cada vez mais, o cliente da baixa renda é fiel a marcas que transmitam segurança, para não correr o risco de investir o orçamento apertado de forma errada. Para os emergentes, no entanto, consumir vai além. É sentir-se incluído, ter a chance de esquecer o passado de pobreza e vislumbrar um futuro promissor.

“Quando compra um computador, o consumidor emergente está dando para o filho a chance de ter uma vida melhor. Para a mulher, o investimento em produtos de beleza aumenta a possibilidade de dar certo no mercado profissional. Os momentos de consumo são momentos de celebração”, explica Renato Meirelles, Sócio-Diretor do instituto de pesquisas Data Popular, em entrevista ao Mundo do Marketing.

Compras compartilhadas

Conquistar este cliente não é fácil. É necessário entrar no universo da baixa renda, entender seus valores e falar sua língua. Há particularidades da base da pirâmide que as companhias precisam aprender para desenvolver sua estratégia de forma adequada. Uma delas é o hábito de compra compartilhada. Mais do que qualquer outro consumidor, o emergente costuma se juntar a parentes e amigos para conseguir preços mais baixos, seja no supermercado atacadista ou na loja de material escolar.

De acordo com um levantamento do Data Popular, 39% dos entrevistados das classes C e D participaram de alguma compra compartilhada no período de um mês, enquanto na AB o número cai para 10%. O resultado representa uma chance para os sites de compra coletiva que desejam atrair estes consumidores, cada vez mais conectados.

Outra característica presente no comportamento de compra da base da pirâmide é a propensão a contratos informais. Ainda de acordo com a pesquisa, 47% dos consumidores das classes C e D emprestaram o cartão de crédito para amigos ou parentes. Na classe AB, esse número cai para apenas 3%. Já o hábito de comprar fiado é comum para 72% das classes C e D, contra 6% da AB.

“É difícil concorrer. As empresas devem investir em mecanismos de crédito próprio e vantagens competitivas para quem compra com os seus meios de pagamento. Mas a tendência é que o consumidor emergente continue usando os dois meios”, acredita o Sócio-Diretor do Data Popular.

Quebrando preconceitos

Cabe também às companhias ter o papel de educadores. Muitas vezes, o consumidor emergente é alvo do discurso moral da elite. Se compra produto pirata, não tem noção de propriedade intelectual. Mas se investe todo o salário em um produto de marca original, é alienado e fútil. Para acabar com o preconceito, as empresas precisam ensinar o consumidor a usar o crédito a seu favor e fazer a escolha do melhor preço, valorizando o processo de compra.

Para isso, a construção de um relacionamento é essencial. Um dos principais meios para se aproximar são as redes sociais. “É fundamental para as marcas estar presentes nestes canais. Não necessariamente para aumentar as vendas, mas para construir uma imagem positiva ou não deixar que a crise se espalhe”, diz Meirelles. A proximidade com o consumidor emergente, entretanto, só é possível quando as empresas absorvem os símbolos característicos do universo cultural da baixa renda.

Vale desde a utilização de garotos-propaganda que dialoguem com o padrão estético à valorização da música e da cultura presentes nas periferias das grandes cidades. Além de cases clássicos como o da Casas Bahia, Fralda Mágica, da Kimberly-Clark, chocolates Arcor e Positivo Informática são exemplos de marcas que têm feito essa conexão com o popular de forma positiva. O que elas têm em comum? “Quebraram o preconceito na origem”, responde Meirelles

Fonte: Mundo do Marketing

terça-feira, 12 de abril de 2011

Vende-se glamour

Virou moda se associar a estilistas para aumentar as vendas
C&A e Riachuelo firmam parceria com nomes da moda e agregam valor a coleções

Qualidade e valor justo, a famosa relação custo-benefício já não enche os olhos da base da pirâmide. Cada vez mais informados, os consumidores querem produtos aspiracionais, que gerem desejo. De olho nisso, empresas como C&A e Riachuelo associam suas marcas a estilistas como Stella McCartney, Cris Barros, Alexandre Herchcovitch e Oskar Metsavaht e lançam coleções com uma pegada fashion, sem deixar de lado os preços acessíveis.


Já na década de 1970, a Riachuelo apostava na estratégia, com o lançamento de peças assinadas pelo estilista Ney Galvão. Mas o conceito foi ganhar destaque mundial em 2004, quando Karl Lagerfeld criou a sua primeira coleção popular, para a rede europeia H&M. A H&M, inclusive, é o principal exemplo deste tipo de iniciativa, tendo firmado nos últimos anos parcerias com nomes como Jimmy Choo, Viktor & Rolf, Lanvin, Matthew Williamsom e Stella McCartney.

A estilista britânica também foi a aposta mais recente da C&A. A parceria (foto) foi a primeira feita entre a loja de departamento e um nome internacional. O sucesso foi tanto que, mesmo com peças custando até R$ 499,00, como era o caso da jaqueta bordada em paetês, os produtos praticamente esgotaram no dia do lançamento.

Celebridades transmitem lifestyle

Agora, a C&A coloca nas lojas uma linha que leva a chancela da cantora Christina Aguilera. A iniciativa faz parte do conceito “Pop Fashion” e, assim como as peças da C&A Collection assinadas por grandes estilistas, faz parte da estratégia do magazine para atrair os consumidores emergentes interessados em produtos que seguem tendências.

“Por meio de parceria com grandes estilistas de moda e também com cantoras do universo pop mundial, nosso público pode ter produtos de qualidade e com preços acessíveis, além de ter contato com o lifestyle de seus ídolos”, explica Elio França, Diretor de Marketing da C&A, em entrevista ao Mundo do Marketing. Entre as celebridades que já se associaram à marca estão as cantoras Beyoncé, Fergie e Nicole Scherzinger.

A primeira parceria feita pela C&A foi em 2005, com o estilista Walter Rodrigues. De lá para cá, a empresa contou com coleções de Raia de Goye, Marcelo Sommer, Reinaldo Lourenço, Isabela Capeto, Amir Slama, Alexandre Herchcovitch, Sérgio K, a marca Espaço Fashion, Gloria Coelho e Maria Bonita Extra. Em 2010, a C&A também lançou uma coleção com a modelo Isabeli Fontana e ainda no primeiro semestre de 2011 será a vez de Gisele Bündchen (foto).

Moda é informação

Além de agradar aos consumidores ávidos por novidades com produtos a preços mais baixos, as parcerias também trazem novos clientes para as lojas de departamento. Com um ticket médio mais alto e a assinatura de profissionais reconhecidos no mundo da moda, as lojas acabam sendo porta de entrada para outros públicos, diferentes do habitual.

“Os grandes designers têm consciência de que os consumidores são disseminadores de opinião. Gostam que as pessoas possam usar produtos criados por eles, não ficam mais numa redoma de poucos clientes. Hoje, a moda, que já foi tão excludente, é informação. O conceito criado pode ser levado a todos”, acredita Alessandra Marins, consultora e sócia do Instituto Rio Moda, em entrevista ao Mundo do Marketing.

A essência das coleções é o fast fashion, oferecendo produtos que acompanham as tendências das passarelas de forma rápida e contínua. Seguindo este conceito, a Riachuelo já teve nomes como Fause Haten assinando seus produtos. Mas o ponto alto foi em novembro de 2010, quando a rede lançou a coleção (foto abaixo) em parceria com Oskar Metsavaht, da Osklen. Na época, foram colocadas 200 mil peças à venda. Poucos dias depois, os pontos de venda tiveram que ser repostos com outras 150 mil unidades.
Parceria deve ser curta

A aposta mais recente da Riachuelo é a coleção de outono-inverno desenvolvida por Cris Barros. Desde 3 de abril foram disponibilizadas 200 mil peças que não terão reposição, o que garante o caráter quase que exclusivo e aumenta o valor dos produtos, minimizando os riscos de arranhar a marca da estilista.

“É importante que a parceria seja curta. Não pode ser a longo prazo, senão acaba no que aconteceu com Pierre Cardin, que licenciou sem critério e banalizou sua imagem. Não sendo de longo prazo, a associação traz leveza para a marca e pode até fortalecê-la, passando uma cara democrática e mais acessível”, ressalta Júlio Moreira, Professor de Branding na Pós-Graduação da ESPM, especialista em marcas e Sócio-Diretor da Top Brands, em entrevista ao portal.

Se no exterior, como no caso da H&M, a estratégia mostra-se favorável, no Brasil, ainda é cedo para afirmar que seja um sucesso. Mas o conceito tem agradado às consumidoras. Para gerenciar possíveis riscos, o importante é manter o padrão de qualidade lá em cima, não exagerar na quantidade de produtos e também dosar na hora de definir o preço.

“A partir da parceria com a Riachuelo, a Cris Barros consegue se comunicar com um público que normalmente não conseguiria. Mas agora é preciso um trabalho de branding. O que ela fará? Os produtos foram vendidos em dois dias. Para o magazine foi muito bom. Agora a marca Cris Barros precisa aproveitar a visibilidade que teve com outros públicos”, aconselha Otávio Pereira Lima, Coordenador do MBA em Negócios e Varejo de Moda da Universidade Anhembi Morumbi, em entrevista ao Mundo do Marketing

Fonte: Mundo do Marketing

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Criança, a alma do negócio

O consumismo infantil é uma realidade crescente, nossas crianças aprenderam a ser consumistas e cada vez mais exigem objetos, experiências, coisas. Seria esse fenômeno um ponto relevante para entender? Haveria necessidade de proteger as crianças dessa realidade, muitas vezes perversa e ditatorial? Qual o papel das instituições? Qual o papel dos pais frente a essa avalanche de informações?

O Instituto Alana é uma organização não-governamental que atua neste contexto, criada em 1994, entre outras missões tem como objetivo a "defesa dos direitos das crianças e dos adolescentes relacionadas a relações de consumo em geral, bem como ao excessivo consumismo ao qual são expostos"

Logo abaixo reproduzo um texto retirado do site e que expressa bem estes valores e missão.


Consumismo Infantil, um problema de todos


"Ninguém nasce consumista. O consumismo é uma ideologia, um hábito mental forjado que se tornou umas das características culturais mais marcantes da sociedade atual. Não importa o gênero, a faixa etária, a nacionalidade, a crença ou o poder aquisitivo. Hoje, todos que são impactados pelas mídias de massa são estimulados a consumir de modo inconseqüente. As crianças, ainda em pleno desenvolvimento e, portanto, mais vulneráveis que os adultos, não ficam fora dessa lógica e infelizmente sofrem cada vez mais cedo com as graves conseqüências relacionadas aos excessos do consumismo: obesidade infantil, erotização precoce, consumo precoce de tabaco e álcool, estresse familiar, banalização da agressividade e violência, entre outras. Nesse sentido, o consumismo infantil é uma questão urgente, de extrema importância e interesse geral.

De pais e educadores a agentes do mercado global, todos voltam os olhares para a infância − os primeiros preocupados com o futuro das crianças, já os últimos fazem crer que estão preocupados apenas com a ganância de seus negócios. Para o mercado, antes de tudo, a criança é um consumidor em formação e uma poderosa influência nos processos de escolha de produtos ou serviços. As crianças brasileiras influenciam 80% das decisões de compra de uma família (TNS/InterScience, outubro de 2003). Carros, roupas, alimentos, eletrodomésticos, quase tudo dentro de casa tem por trás o palpite de uma criança, salvo decisões relacionadas a planos de seguro, combustível e produtos de limpeza. A publicidade na TV é a principal ferramenta do mercado para a persuasão do público infantil, que cada vez mais cedo é chamado a participar do universo adulto quando é diretamente exposto às complexidades das relações de consumo sem que esteja efetivamente pronto para isso.


As crianças são um alvo importante, não apenas porque escolhem o que seus pais compram e são tratadas como consumidores mirins, mas também porque impactadas desde muito jovens tendem a ser mais fiéis a marcas e ao próprio hábito consumista que lhes é praticamente imposto.

Nada, no meio publicitário, é deliberado sem um estudo detalhado. Em 2006, os investimentos publicitários destinados à categoria de produtos infantis foram de R$ 209.700.000,00 (IBOPE Monitor, 2005x2006, categorias infantis). No entanto, a publicidade não se dirige às crianças apenas para vender produtos infantis. Elas são assediadas pelo mercado como eficientes promotoras de vendas de produtos direcionados também aos adultos. Em março de 2007, o IBOPE Mídia divulgou os dados de investimento publicitário no Brasil. Segundo o levantamento, esse mercado movimentou cerca de R$ 39 bilhões em 2006. A televisão permanece a principal mídia utilizada pela publicidade. Ao cruzar essa informação com o fato da criança brasileira passar em média quatro horas 50 minutos e 11 segundos por dia assistindo à programação televisiva (Painel Nacional de Televisores, IBOPE 2007) é possível imaginar o impacto da publicidade na infância. No entanto, apesar de toda essa força, a publicidade veiculada na televisão é apenas um dos fatores que contribuem para o consumismo infantil. A TNS, instituto de pesquisa que atua em mais de 70 países, divulgou dados em setembro de 2007 que evidenciaram outros fatores que influenciam as crianças brasileiras nas práticas de consumo. Elas sentem-se mais atraídas por produtos e serviços que sejam associados a personagens famosos, brindes, jogos e embalagens chamativas. A opinião dos amigos também foi identificada como uma forte influência.
Não é por acaso que o consumismo está relacionado à idéia de devorar, destruir e extinguir. Se agora, tragédias naturais, como queimadas, furacões, inundações gigantescas, enchentes e períodos prolongados de seca, são muito mais comuns e freqüentes, foi porque a exploração irresponsável do meio ambiente prevaleceu ao longo de décadas.

Concentrar todos os esforços no consumo é contribuir, dia após dia, para o desequilíbrio global. O consumismo infantil, portanto, é um problema que não está ligado apenas à educação escolar e doméstica. Embora a questão seja tratada quase sempre como algo relacionado à esfera familiar, crianças que aprendem a consumir de forma inconseqüente e desenvolvem critérios e valores distorcidos são de fato um problema de ordem ética, econômica e social.

O Projeto Criança e Consumo, do Instituto Alana, combate qualquer tipo de comunicação mercadológica dirigida às crianças por entender que os danos causados pela lógica insustentável do consumo irracional podem ser minorados e evitados, se efetivamente a infância for preservada em sua essência como o tempo indispensável e fundamental para a formação da cidadania. Indivíduos conscientes e responsáveis são a base de uma sociedade mais justa e fraterna, que tenha a qualidade de vida não apenas como um conceito a ser perseguido, mas uma prática a ser vivida."

Fonte: http://www.alana.org.br/



O consumismo infantil é uma realidade crescente, nossas crianças aprenderam a ser consumistas e cada vez mais exigem objetos, experiências, coisas. Seria esse fenômeno um ponto relevante para entender? Haveria necessidade de proteger as crianças dessa realidade, muitas vezes perversa e ditatorial? Qual o papel das instituições? Qual o papel dos pais frente a essa avalanche de informações?



DICA: O Instituto Alana produziu um documentário sobre o consumismo infantil, para acessar, clique no link

Criança, a alma do negócio

“Por que meu filho sempre me pede um brinquedo novo? Por que minha filha quer mais uma boneca se ela já tem uma caixa cheia de bonecas? Por que meu filho acha que precisa de mais um tênis? Por que eu comprei maquiagem para minha filha se ela só tem cinco anos? Por que meu filho sofre tanto se ele não tem o último modelo de um celular? Por que eu não consigo dizer não? Ele pede, eu compro e mesmo assim meu filho sempre quer mais. De onde vem este desejo constante de consumo?
Este documentário reflete sobre estas questões e mostra como no Brasil a criança se tornou a alma do negócio para a publicidade. A indústria descobriu que é mais fácil convencer uma criança do que um adulto, então, as crianças são bombardeadas por propagandas que estimulam o consumo e que falam diretamente com elas. O resultado disso é devastador: crianças que, aos cinco anos, já vão à escola totalmente maquiadas e deixaram de brincar de correr por causa de seus saltos altos; que sabem as marcas de todos os celulares mas não sabem o que é uma minhoca; que reconhecem as marcas de todos os salgadinhos mas não sabem os nomes de frutas e legumes. Num jogo desigual e desumano, os anunciantes ficam com o lucro enquanto as crianças arcam com o prejuízo de sua infância encurtada. Contundente, ousado e real este documentário escancara a perplexidade deste cenário, convidando você a refletir sobre seu papel dentro dele e sobre o futuro da infância.”

Direção: Estela Renner
Produção Executiva: Marcos Nisti
Maria Farinha Produções

sexta-feira, 8 de abril de 2011

INTERNET GANHA FORÇA NAS COMPRAS



A pesquisa O Observador 2011 mostrou com números uma tendência que se mostra cada vez mais forte no Brasil: o uso da internet como canal de compras.

O levantamento constatou que 15% dos entrevistados já consideram os sites de compras coletivas como a melhor forma de comprar produtos e serviços, e que 14% afirmam que utilizam redes sociais como Orkut, Facebook e Twitter para buscar informações sobre promoções.

Embora a maioria (39%) tenha dito que não confia em sites de compras coletivas, 25% consideram que eles são o futuro das compras pela internet.

Essa percepção sobre o crescente papel dos sites no consumo está presente em níveis semelhantes nas regiões do País – no Nordeste, foi indicada por 24% dos pesquisados; no Norte e Centro-Oeste por 23%; no Sudeste por 28%; e no Sul por 23%.

É um sentimento que aparece também em diferentes classes sociais. Na classe AB, 38% dos entrevistados veem os sites de compras coletivas como o futuro das compras; na classe C a porcentagem é de 25%; e na DE 17% fazem essa avaliação.
 
Fonte: http://oobservadorbrasil.blogspot.com/2011/04/internet-ganha-forca-nas-compras.html

sexta-feira, 1 de abril de 2011

Consumo e Publicidade

Os motivos ou razões pelas quais somos levados a comprar, desejar determinados objetos e marcas, frequentar lojas e shoppings ou preferir determinados serviços em detrimento de outros são um grande mistério. Existem vários pensadores com várias teorias acerca deste segredo, assim como pesquisadores (de mercado, principalmente) que buscam compreender as escolhas dos consumidores para que possam entender suas preferências e assim, criar demandas, adaptar produtos e serviços criando consumidores mais satisfeitos e comerciantes/ empresários muito mais felizes.


Será que compramos estritamente por necessidade? Instinto? Pressão social? Será que a utilidade dos objetos sempre é levada em conta na hora da realização de uma escolha? Ou será que queremos expressar outros sentimentos, como por exemplo… poder?

Rocha (2006) afirma que “pesquisas para conhecer segredos de consumidores é parte dos esforços para solucionar problemas de vendas, marcas e empresas, pois saber o segredo pode significar a diferença entre sucesso e fracasso dos produtos e serviços” (p.85)

Dessa maneira, pode-se dizer que há muito capital envolvido na produção de um produto, assim como na sua divulgação. Os capitais investidos, como capital humano, capital financeiro, o tempo e a energia são alguns dos fatores que estão intimamente envolvidos na produção de um objeto que deseja ter em seu guarda-roupa, na sua casa ou no seu organismo.

A publicidade surge como um meio de tornar essa relação possível e desejável por você, consumidor. Ela que cria um código gerador de categorias como necessidade, utilidade e desejo.

“A publicidade traduz a produção para que esta possa virar consumo, e ensina modos de sociabilidade enquanto explica o que, onde, quando e como consumir. E ainda mais: é a publicidade que sustenta, em larga medida, a possibilidade de sermos os alegres receptores cotidianos das diferentes mídias” (Rocha, 2006, p.11)

Devido a esta característica educadora, a publicidade passa a ser objeto de pesquisa e análise para muitos pesquisadores, pois a sua narrativa pensa o consumo como um sistema cultural. Estudar as representações encontradas nas narrativas publicitárias acaba sendo uma fonte de informação para decifrar o imaginário “que informa práticas de consumo” (Rocha, 2006, p.12). Ou seja, a publicidade dá sentido ao consumo, e por isso está entre as principais “produtoras de sistemas simbólicos presentes em nosso tempo”.

Depois de assistir um comercial bem realizado, fotografia, música, edição, filmagem… não se compra apenas um relógio, se compra um Cartier. Não se come apenas um chocolate, se come um Baton, um Sonho de Valsa, um Serenata de Amor. Não se compra um refrigerador e sim uma Brastemp. Ao ver um par de chinelos de borracha nos pés, antes apenas usadas pelas camadas mais populares da sociedade, após uma grande campanha publicitária vira moda, tornando-se produto de exportação, afinal de contas “Havaianas, todo mundo usa”, e quem não usava, seja por desconhecimento ou preconceito, hoje usa e coleciona.

“O fato é que o consumo perpassa a vida social do nosso tempo com uma força que poucos fenômenos possuem, e é através do sistema publicitário que ele adquire sentido social, pois as marcas, os bens, os produtos e serviços ganham as suas identidades nesse discurso, e, com elas, uma existência concreta em nossas vidas” (Rocha, 2006, p.11)

Esses produtos e o que representam (os valores que lhe são atribuídos) acabam definindo grupos e também nossa sociedade, contribuem para identificar eras, marcar décadas e momentos de uma dada sociedade. Os anúncios nos vendem estilos de vida, status, poder, emoções, experiências, a vontade e o desejo vão muito mais além de consumir o que realmente está envolvido no comercial. O anúncio dispõe de um amplo espaço de especulação, onde a criatividade impera.

Outros fatores, sobretudo os significados que os próprios atores atribuem aos bens, definem de forma positiva ou negativa produtos e serviços, colocando na moda ou fora dela determinados elementos, atribuindo ou retirando valor de marcas ou grifes, e este movimento é fundamental para entender como o consumo se realiza na vida social.



“A PUBLICIDADE É O MODO PRIVILEGIADO DE EXPRESSÃO DO CONSUMO”

Everardo Rocha




Fonte:
ROCHA, Everardo. Representações do consumo: estudos sobre a narrativa publicitária. Rio de Janeiro, Mauad, 2006.