quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

Últimas vagas - Culturelab Summer Edition

O nosso curso começa agora dia 31 de janeiro, estamos animadas, eu  e Carol Althaller com a turma formada. Estudantes, profissionais de marketing, publicidade, moda e comunicação fazem parte do nosso time.

Ainda dá tempo para se inscrever, vem com tudo finde!


Informações culturelab.news@gmail.com



terça-feira, 21 de janeiro de 2014

O problema do muro no Brasil - Roberto DaMatta

LEITURA OBRIGATÓRIA

O problema do muro no Brasil

"As casas americanas não têm muro. É um índice psicológico. A vida de comunidade não compete com a vida de intimidade. É uma continuação, se não for, ao contrário, uma fonte". 
Alceu Amoroso Lima, "A Realidade Americana" (1955) 

Aqueles primeiros brasileiros que visitaram os Estados Unidos — gente do porte e Monteiro Lobato, Anísio Teixeira, Érico Veríssimo e de Vianna Moog — deram-me régua e compasso para “ler” o Brasil. Porque, num sentido implícito, como desvendaram os antropólogos na figura pioneira de um Gilberto Freyre (que por lá andou, tornando-se mais brasileiro), ao descobrir a América, redescobriam o Brasil numa complexa dialética e presenças e ausências. Só os idiotas viajam para dizer que foram, comeram, compraram e viram e não aprenderam coisa alguma!
A observação que abre essa crônica alinhavou toda uma interpretação da vida social brasileira que expressei num conjunto de trabalhos lidos, usados, criticados, recalcados e ignorados.
Entre nós, a casa murada, com estátuas de leões nos seus limiares e cachorros ferozes nos seus quintais, defendia-se da rua. Nos Estados Unidos, prossegue Alceu Amoroso Lima: "A vida em comunidade precede à vida de intimidade. O geral, nesse terreno, antecipa-se ao particular. O público ao privado. Não há homem público (...) que não tenha a sua altura, os seus ordenados ou rendimentos e até mesmo a sua dieta posta em pratos limpos. Não há barreiras entre a sala de visitas, a sala de jantar e até mesmo os quartos. Tudo é público." E, um pouco mais adiante, com profundidade característica e sem os labirintos retóricos, típicos dos presunçosos que infestam o nosso mundo público, arremata: "A comunidade mata a intimidade naquilo que tem, por vezes, de mais precioso. As linhas suprimem as entrelinhas. A vida superficial se desenvolve em detrimento da vida profunda" (pág. 41 da obra mencionada).
Ou seja, na América não há - como tenho reiterado no meu trabalho - contraste ou paradoxo entre as 
normas da casa e da rua. Para bem e mal, ambas - intimidade e vida pública - são expressões de um mesmo e único conjunto de leis escritas no papelório jurídico e - como dizia Rousseau - nos corações.
Quando visitei os Estados Unidos, em 1963, tive o mesmo choque. Não havia muros. A igualdade como valor (e como causa perdida a ser incessantemente perseguida e implementada) suprime muros e conduz a uma terrível transparência. Um dos preços da tal democracia boa de falar, complicada de fazer e duríssima de praticar, é derrubar muros. Mas eis que, neste Brasil democrático, estamos pensando em construí-los em volta de favelas como um modo "ecológico" de proteger a Natureza!
A Grande Muralha do Rio de Janeiro - terra do carnaval, da praia e da mistura aberta -, prestes a ser edificada, não terá nada a ver com ausência de coragem política para zonear a cidade, com o uso dos instrumentos apropriados - fiscalização, policiamento, aplicação da lei, distinção plena e clara do legal e do ilegal -, mas será parte da "questão ecológica". No passado, quando éramos mais honestos e cada qual sabia o seu lugar, os escravos viviam enclausurados em senzalas; hoje, usamos o ideário da correção política e falamos em proteção ambiental para segregar os mais agressivamente desiguais.
Construindo um "muro ecológico" mudamos, como convém, os termos do problema. Não se trata mais de conviver com uma avassaladora pobreza historicamente engendrada por um sistema que odeia a igualdade na prática, para incensá-la no altar do politicamente correto. Não! Trata-se, isso sim, de proteger a Natureza. A proteção da Natureza racionaliza a solução definitiva inapelável (e portanto ditatorial) para a pobreza em massa que envergonha (e ameaça) os que residem ao seu redor. Quando descobrirmos mais invasões, a culpa terá sido do muro, não nossa.
De minha parte, eu - um conservador de carteirinha e já em várias listas de paredão - continuo achando incrível que se continue a pensar que um muro (e não um programa pra valer de educação primária, secundária e de igualdade em geral) vai estancar a desigualdade; tal como no período escravista pensávamos que a Lei do Ventre Livre ia, um belo dia, liquidar espontaneamente a escravidão.
Um muro para deter o avanço da iniquidade social que nós não conseguimos sequer equacionar, não vai deter coisa alguma. Antes de realizar tal monumento ao nosso gosto pela sacralização da desigualdade em escala estupidamente grandiosa, vale a pena pensar numa coisa óbvia. Todo muro tem dois lados. Se do lado de cá, ele impede o avanço do nosso descaso para com os pobres; do lado de lá, ele vai servir de trincheira, casamata e torre para os que se aproveitam da pobreza "criminosamente" e não apenas pelo voto. Com o muro, concretiza-se o que o Zuenir Ventura diagnosticou como uma cidade partida que, murada, será irremediavelmente repartida.

Fonte: http://oglobo.globo.com/rio/ancelmo/posts/2009/04/15/o-problema-do-muro-no-brasil-177524.asp#.Ut5z6Edvy-4.facebook

segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

Quando os índios somos nós e os rolezinhos

 
Quando os indios somos nós* e os rolezinhos
Laura Graziela Gomes (PPGA/UFF)

Imagine você fazendo parte de um grupo de brasileiros de classe média em uma excursão a New York, indo passear numa loja de departamento linda e cara (não estou me referindo aquelas mais "populares"). O objetivo é apenas conhecer este famoso templo do consumo nova-iorquino, um lugar frequentado por pessoas ricas, celebridades, enfim gente muito fina, dar uma voltinha, tirar fotos para postar no facebook, instagram e, se possível dar de cara com alguma promoção, quem sabe, uma meia, gravata, lenço, qualquer coisa que possa comprar e ganhar como troféu aquela embalagem maravilhosa com a qual provará aos amigos quando retornar de viagem, que lá esteve e, portanto, pode ser considerada uma pessoa "civilizada". 
Agora, imagine você e seu grupo tendo a entrada barrada por algum motivo que sequer lhes será comunicado. Passaria por sua cabeça e a dos demais aceitarem o que aconteceu como uma fatalidade e saírem docilmente com o rabinho entre as pernas? Nada disso, não é mesmo? Imediatamente, o episódio seria estampado nos jornais brasileiros, nas redes de televisão, redes sociais com acusações de racismo, preconceito etc. 
Nós outros ficaríamos indignados em solidariedade a vocês, nossos compatriotas, exigindo providências das autoridades diplomáticas brasileiras, invocando liberdades civis, direitos de ir e vir, reciprocidade, e ahhhhh como ia me esquecer disso? invocaríamos sem piedade os famigerados direitos humanos! No meio da confusão, passaria pela sua cabeça ou de alguém mais do grupo, que os administradores da loja de departamento pudessem estar operando com a mesma lógica dos administradores e seguranças de nossos shopping centers em relação aos jovens do rolezinho? Ora, você dirá, mas isso é um absurdo, ou melhor uma provocação! Imagine, eu ser comparada/o com um marginal da periferia! Essa mulher é uma louca! Engano seu meu querido ou minha linda. Seu cabelo não nega, sua bunda idem e o tom da sua voz também, bem como outros sinais de seu corpo e aparência que poderão trair suas origens "latinas" e sociais, por mais maquiagem, tintura nos cabelos, corte, escova, perfume e roupas de marca que usar. 
Aliás, poucos brasileiros mesmo de classe média passariam numa inspeção eugênica rigorosa, feita a partir de critérios wasp (white american saxon people), diga-se de passagem. Dito isso, afinal, sob quais alegações teríamos o direito de invadir uma das lojas de departamento mais exclusivas de New York para desgosto de seus vic (very important clients)? 
A pensar pelas mesmas categorias de alguns jornalistas, nós seríamos percebidos a partir de atributos muito semelhantes àqueles que foram usados contra os jovens do rolezinho: somos mestiços, e ainda vistos como habitantes da periferia do mundo, pobres, atrasados, apesar de eventualmente termos algum dinheiro para gastar com bobagens. Em suma, uns "bárbaros".

Você não precisa ser um antropólogo, mas vez por outra pode se colocar no lugar do outro, ou então, imaginar uma situação em que você é o outro, sacou?
(*) O título foi dado como referência e homenagem ao livro de Roberto Kant de Lima, antropólogo brasileiro, escrito a partir de sua experiência em Harvard como estudante de doutorado "brasileiro". Ao ler as matérias sobre os rolezinhos, o livro me veio a mente por inteiro. Deveria ser lido obrigatoriamente em todas as faculdades de jornalismo do país.
Sobre a autora profa dra Laura Graziela Gomes,  professora adjunta da Universidade Federal Fluminense, coordenadora do Núcleo de Estudos da Modernidade NEMO. Pesquisadora do campo da Antropologia do Consumo, autora de livros e artigos acadêmicos na área.

Culturelab Summer Edition em janeiro, no Rio.


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domingo, 19 de janeiro de 2014

Sobre os rolezinhos - movimento, juventude e consumo

Artigo: Uma demonstração dos jovens pelo direito à cidade 

Para professora de antropologia da Oxford, rolezinhos devem ser entendidos como uma demonstração do direito de criar e recriar os nossos espaços e a nossa cidadania

Rosana Pinheiro-Machado
Uma das questões mais discutidas nos últimos dias sobre os rolezinhos é se esse ato é político ou não. De alguma maneira, tenho percebido que existe uma pressão social muito grande para mostrar que não há reivindicação social e que tampouco se configura um movimento social. O argumento de que esses jovens apenas querem zoar tem sido amplamente usado e, por meio desse discurso, tem-se uma forma de deslegitimar ou menosprezar toda a riqueza de significados desse ato.
Não se trata de um movimento social no sentido de uma ação coletiva clássica. Mas o conceito de política precisa ser minimamente contextualizado e alargado. A acepção política aristotélica versa sobre a participação engajada na vida pública da polis. Pertencer a polis é exercer a cidadania. Os rolezinhos, portanto, devem ser entendidos como uma demonstração do direito à cidade: a liberdade de ir e vir, de criar e recriar os nossos espaços e a nossa cidadania. Ao fazermos isso, modificamos a nossa realidade como diz o geógrafo britânico David Harvey. Esses jovens, do Brasil todo, vivem em um contexto de violência estrutural: burocracia, hospital e escolas que não funcionam. Somado a isso, há um contexto brutal de discriminação. Eu me arrumo bem para poder ser aceito no shopping e não ser confundido com bandido, preto e favelado. As pessoas tem que entender que na favela também tem gente que gosta de coisa bonita, disse um menino do Morro da Cruz em Porto Alegre, de 17 anos, a mim e a pesquisadora Lúcia Scalco.
A premissa básica do rolezinho é ir a um espaço considerado público e gratuito, mas que, para aqueles jovens, tem uma coisa que na favela não tem: riqueza, segurança, luzes, mercadorias. Os shoppings são bonitos também, não vamos esquecer-nos desse detalhe. Os shoppings têm produtos bons de verdade, como disse-me uma antiga informante, que era vendedora camelô e trabalhava com pirataria. Os shoppings, principalmente, têm marcas caras, e são essas marcas mais caras que despertam fascínio de um mundo encantado criado pelo branding do amor das grandes empresas. O problema do branding do amor é que, como nas relações privadas interpessoais, não podemos escolher quem vai nos amar. Podemos tentar alvos, mas não controlamos isso de forma alguma. E esses jovens amam a quem não os amam.
É bastante fácil acusar esses jovens de consumistas e dizer que não há política em querer usar marcas do capitalismo global. É preciso entender que a política está justamente nesse ato da apropriação do simbolo que é mais caro ao capitalismo. Trata-se de um engajamento em um mundo que não foi planejado para eles. Qualquer plano de marketing de uma grife irá excluir todas as possibilidades de a marca ser associada com pessoas non grata. E os meninos não aceitam isso, vão lá e confundem tudo. Fazem uma bagunça tremenda na sociedade ao romper a bolha da exclusão urbana, espacial e da sociedade de consumo. E a população se incomoda profundamente, sente medo, repulsa e aversão.
Mas é importante não fetichizar essa idolatria das marcas com um recorte de classe. Não podemos nos esquecer que esses jovens têm 16 anos. E, aos 16 anos, em uma escola de elites, todos os jovens estarão usando o mesmo moleton de marca norte-americana. A diferença é que para uns, isso é dado; para outros, exige um processo sofrido para a aquisição e, consequentemente, de ritualização para a exibição. A política do rolezinho é, simplesmente, ter o direito de caminhar, namorar, usar e exibir como qualquer cidadão brasileiro deveria ter direito.

Fonte: http://moglobo.globo.com/integra.asp?txtUrl=%2Fpais%2Fartigo-uma-demonstracao-dos-jovens-pelo-direito-cidade-11343827

segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

Todos os noruegueses se tornaram "milionários" esta semana

Reportagem da revista exame aponta:




Fundo soberano de petróleo do país ultrapassou as 5 trilhões de coroas norueguesas essa semana - o que dá mais de 1 milhão por habitante


No site do banco central da Noruega, um contador no canto direito monitora em tempo real o valor do fundo soberano de petróleo do país.
Na última quarta-feira, o número ultrapassou pela primeira vez os 5,11 trilhões de coroas norueguesas. 
Como o país tem cerca de 5 milhões de habitantes, isso significa que se o fundo fosse dividido igualmente entre os noruegueses, cada um ficaria com mais de 1 milhão de coroas norueguesas - e seria, tecnicamente, um milionário.
Não há, porém, a mais remota chance disso acontecer.
O fundo foi criado em 1995 justamente para garantir que o dinheiro dos impostos e concessões do setor de petróleo não entrasse automaticamente na economia real, o que causaria o risco de superaquecimento.
Os gestores do fundo se comprometem com uma taxa de retorno anual de 4%. Para isso, investem em ações e títulos nos mercados - estima-se que o fundo detenha 1,25% do valor de mercado de todas as companhias do mundo.
O governo, por sua vez, não pode retirar mais do que 4% do fundo por ano para financiar seu orçamento.
E nem precisa: o país tem desemprego em torno de 3% e o maior índice de desenvolvimento humano do mundo. 

terça-feira, 7 de janeiro de 2014

Antropologia do Consumo e Trends - Culturelab Summer Edition no Rio - 31 jan + 1 e 2 fev



Você já ouvir falar em tendências? Sabe como identificá-las? A partir de trabalhos de campo, pesquisas de comportamento , interpretações culturais, embasamento teórico encontramos um caminho para pensar o futuro do consumo.É com base na experiência de anos de mercado de trabalho e das teorias do mundo acadêmico que a pesquisadora Carol Althaller e a antropóloga do consumo Hilaine Yaccoub, professora da ESPM RJ e IED RJ se juntaram para dar um curso livre, o CultureLab numa versão compacta. 

Dias 31 jan + 1 e 2 fev de 2014, no Rio. 

Mais informações culturelab.news@gmail.com