Eu estava em uma defesa de tese de doutorado na Universidade Federal do Rio de Janeiro, quando, pela primeira vez, escutei essa frase. Na época, ainda estava na graduação e me assustei bastante com a frase que traduzia a profissão que havia escolhido pra seguir.
Complicado pensar que após tantos anos estudando, 4 ou 5 anos de graduação, 2 anos de mestrado e 4 de doutorado, por fim, me tornaria simplesmente uma fofoqueira. Fiquei um tanto preocupada, até me deparar com as explicações de Max Gluckman sobre a origem da palavra ANTROPOLOGIA. De forma inusitada, Gluckman definia o antropólogo como aquele que fala sobre homens: ou seja, um mexeriqueiro. A antropologia, assim, não era apresentada apenas como uma ciência do homem, mas sobre os mexericos que caracterizam a existência humana.
Estranho que, ao me enveredar nas pesquisas durante o mestrado, percebi que ele tinha toda razão. É vital para o fazer antropológico ouvir seus interlocutores, entender como os fatos se dão em seu contexto e para isso é fundamental estar lá, vendo, ouvindo e compreendendo. A antropologia, a meu ver, é a ciência da tradução de sentidos.
Como costumo explicar para meus alunos de Comportamento do Consumidor da ESPM, quando há um crime, um assassinato, por exemplo, o detetive irá investigar todas as pessoas que estavam na cena, aqueles que viram ou escutaram o fato. Cada ponto de vista será uma peça e a junção de várias delas organizadas irá formar um grande quebra-cabeça, que após diversas hipóteses, milimetricamente estudadas, criará uma versão do que aconteceu, a construção de um cenário onde se pode captar uma série de informações, práticas e representações.
Essa coluna tem exatamente esse objetivo: ser um espaço para que eu compartilhe alguns dos meus olhares, escutas e breves traduções. Muito mais do que um lugar para a verdade, e sim verdades. Desejo apenas contribuir com a relativização de explicações muitas vezes construídas com olhar enviesado, prejudicando o entendimento do ponto de vista dos “nativos”, no nosso caso, consumidores.
Até a próxima!
Instagram: @hilaine
Contato: hilaine@gmail.com
Texto originalmente publicado em Crônicas do Consumo: insights de uma antropóloga
http://unplanned.com.br/coluna/cronicas-do-consumo-insights-de-uma-antropologa/antropologos-sao-mexeriqueiros-profissionais/