domingo, 4 de agosto de 2013

Antropólogos são mexeriqueiros profissionais

Eu estava em uma defesa de tese de doutorado na Universidade Federal do Rio de Janeiro, quando, pela primeira vez, escutei essa frase. Na época, ainda estava na graduação e me assustei bastante com a frase que traduzia a profissão que havia escolhido pra seguir.
Complicado pensar que após tantos anos estudando, 4 ou 5 anos de graduação, 2 anos de mestrado e 4 de doutorado, por fim, me tornaria simplesmente uma fofoqueira. Fiquei um tanto preocupada, até me deparar com as explicações de Max Gluckman sobre a origem da palavra ANTROPOLOGIA. De forma inusitada, Gluckman definia o antropólogo como aquele que fala sobre homens: ou seja, um mexeriqueiro. A antropologia, assim, não era apresentada apenas como uma ciência do homem, mas sobre os mexericos que caracterizam a existência humana.
Estranho que, ao me enveredar nas pesquisas durante o mestrado, percebi que ele tinha toda razão. É vital para o fazer antropológico ouvir seus interlocutores, entender como os fatos se dão em seu contexto e para isso é fundamental estar lá, vendo, ouvindo e compreendendo. A antropologia, a meu ver, é a ciência da tradução de sentidos.
Como costumo explicar para meus alunos de Comportamento do Consumidor da ESPM, quando há um crime, um assassinato, por exemplo, o detetive irá investigar todas as pessoas que estavam na cena, aqueles que viram ou escutaram o fato. Cada ponto de vista será uma peça e a junção de várias delas organizadas irá formar um grande quebra-cabeça, que após diversas hipóteses, milimetricamente estudadas, criará uma versão do que aconteceu, a construção de um cenário onde se pode captar uma série de informações, práticas e representações.
Essa coluna tem exatamente esse objetivo: ser um espaço para que eu compartilhe alguns dos meus olhares, escutas e breves traduções. Muito mais do que um lugar para a verdade, e sim verdades. Desejo apenas contribuir com a relativização de explicações muitas vezes construídas com olhar enviesado, prejudicando o entendimento do ponto de vista dos “nativos”, no nosso caso, consumidores.
Até a próxima!
Instagram: @hilaine
Contato: hilaine@gmail.com

Texto originalmente publicado em Crônicas do Consumo: insights de uma antropóloga
http://unplanned.com.br/coluna/cronicas-do-consumo-insights-de-uma-antropologa/antropologos-sao-mexeriqueiros-profissionais/