O salão de beleza é o boteco das mulheres
Postado por Hilaine Yaccoub - 01/06/2012
Interessante observar que há tantos salões quanto bares, e estes são bastante movimentados quintas, sextas e sábados. Ou as mulheres se arrumam para curtir (lindas) o fim de semana, ou só tem esses dias para se prepararem para a semana de trabalho seguinte. Afinal de contas, elas precisam estar impecáveis tanto para o lazer quanto para o trabalho. E essa é uma norma inquestionável.
No salão elas estabelecem vínculos, conversam e desabafam. É a famosa “conversa de salão” - nome de um programa de TV da GNT inclusive - que ocorre e acaba sendo uma válvula de escape; cuidam da aparência, da beleza e cumprem a “sua obrigação”, porque, para elas, cuidar da aparência é uma obrigação e não uma simples escolha ou opção. Essa proximidade faz com que ocorram conversas íntimas como em consultórios de psicólogos. Não existe a psicologia de bar? Pois é, existe também a psicologia de salão.

As camadas populares veem nos cuidados da aparência além do embelezamento supérfluo. Existe uma linha muito tênue entre a busca da beleza, a potencialização da feminilidade e o compromisso com a política da boa aparência (“eu sou pobre, mas sou limpinho”).
A pobreza diretamente ligada à limpeza é uma máxima que persiste e que está no inconsciente coletivo. Além da limpeza doméstica com uso de produtos de primeira linha estar bem apresentado, ter roupa pra sair, ter perfume certo para cada ocasião, usar a melhor maquiagem e o melhor sapato quando se está em público é uma constante que vem se reproduzindo a várias gerações. Essa forma de usar produtos, vestuário, de se estabelecer regras para seus usos, são desenvolvidos, reproduzidos e ensinados, aos filhos, aos parentes, aos amigos, aos vizinhos.

Essa busca por ser e parecer mulher me faz parar para pensar um pouco sobre o esforço que é para conquistar e manter este status em nossa sociedade. Há uma famosa frase da Simone de Bevoir, muito utilizada pela antropóloga Mirian Goldenberg, minha professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro, que traduz e revela que ser mulher é uma construção cultural e não natural. “Não se nasce mulher, torna-se mulher.”
De fato, o sexo está entre as pernas e o gênero está entre as orelhas. Nossas experiências vividas, aprendidas e reproduzidas nos dizem ser quem somos, nos classificam e junto delas vêm as obrigações relacionadas a cada grupo. Pra ser mulher, portanto é preciso muito mais do que nascer mulher em nossa sociedade.
Fonte: http://mundodomarketing.com.br/blogs/diario-das-classes-c-d-e-e