quarta-feira, 12 de março de 2014

Alou Floripa, estou chegando ai! 14 e 15 de março - ConsumerLab



A Antropologia do consumo investiga as práticas e as representações do consumidor contemporâneo, peça central na sociedade em que vivemos, a sociedade de consumo.

Desafio: Você conhece mesmo a cabeça do seu cliente? Você sabe quais são os seus valores, os seus sonhos e o que mais importa pra ele na hora de escolher um produto e serviço? Você entende a diferença entre necessidade e desejo?

Se você respondeu com uma certa dose de dúvida a alguma dessas perguntas está na hora de parar e estudar. PARE TUDO AGORA E VAMOS RECICLAR.

A Antropologia é muito mais do que uma cadeira da universidade, é uma curso que tem como princípio entender o outro, traduzir sua lógica de pensamento e por conseguinte suas ações para outros grupos, no caso, nós, os estrangeiros que desejamos entendê-los para melhor nos comunicarmos.

A Antropologia nos ensina o que, como, de que maneira, podemos falar (nos comunicar) e aprender com as atitudes dos aborígenes

·         1) Aprendendo a re-enxergar ou como ser um mexeriqueiro profissional.  A aula tem como objetivo apresentar alguns conceitos e táticas (etnografia) para aprender a olhar o “outro”, no caso, o consumidor e relativizar sua forma de pensar e agir.

·         2) Hierarquia das necessidades: Você sabia que nada é supérfluo e tudo é relativo? Os nativos sabem.

·         3) Vamos enterrar Maslow? O funk ostentação contradiz o famoso teórico, e dizem que o funk não serve pra nada. Tolinhos!

·         4) Nem tudo é só status. Ter está para além de mostrar... Formação de gosto na teoria de Pierre Bourdieu.

     E se der tempo... um plus:
·         5) Consumo como prática ritual. Nem tudo que você tem é seu. Duvida? A gente te mostra o processo ritual na formação da posse.

Inscrições com renata@vilaj.com.br

domingo, 9 de março de 2014

Relato de uma antropóloga




Matern(idade)


por Rosana Pinheiro-Machado


"Eu sou aquela mulher que tem precisamente trinta e pouquinhos anos. Quando
entro em um flerte, eu tenho trinta; quando estou no trabalho, trinta e
cinco. Nesse meio termo, eu defino a minha idade, sempre imprecisa,
relativa e contextual. Eu penso que a compreensão do tempo é mais
complexa do que os dias contados pelo nosso calendário. Eu me calculo por estações, amores, viagens. Quanta variação entre meus trinta e trinta e cinco anos!…


Nos últimos tempos, realizei algumas falas acadêmicas sobre minha
trajetória e, por incrível que pareça, arranquei, ao invés de aplausos,
lágrimas. Nelas, eu não contava a trajetória de franco sucesso de uma
jovem professora de Oxford. Eu apenas reconhecia que, aquilo que aqui
vamos chamar de “sucesso profissional” (que significa basicamente
alcançar os objetivos traçados), foi conquistado às duras penas. Mas não
vou começar com o discursinho da self-made-woman. É bem diferente
disso. Duras penas aqui significa que eu simplesmente tive que abrir mão
de grande parte da minha vida pessoal. E certamente ecoou na plateia
feminina que ser antropóloga de trabalho de campo às vezes não é tão
simples assim. Entre tantas outras profissões que exigem mobilidade
(especialmente em um contexto que aponta cada vez mais para a
flexibilidade e precariedade dos contratos de trabalho).
As mulheres podem conciliar sucesso na vida profissional e vida amorosa, é claro.
No meu caso, não era possível. Sai de casa aos vinte e cinco e já se
foram desde então cinco países, idas e vindas e a impossibilidade de
criar vínculos. Eu bem que tentei, eu bem que fiz juras de amor, de
ficar ou voltar, abandonar, simplesmente porque eu queria fingir que eu
era uma mulher “normal” e que eu ia brincar de casinha. Mas a verdade é
que isso não aconteceu. Já doeu, hoje não dói mais.
Eu não sei se foi intencional ou não, mas me tornei assim, gostei de ser assim e,
admito, sou plenamente feliz por ser assim. Não tenho a sensação de que
falta algo na minha vida (exceto dinheiro!). E nesse “nada que me falta”
entra a indagação da maternidade. Até porque, sejamos, sinceros, eu não
conquistei sucesso porra nenhuma. Eu tenho, aos meus trinta e
pouquinhos, que ralar muito para assegurar estabilidade em um emprego
que, no meu caso, é bastante instável e depende de um número desumano de
publicações. E aos trinta e pouquinhos, continuar jogando alto -
simplesmente para manter o que eu tenho – envolve abrir mão de novas
coisas.
Quando eu penso em maternidade, penso que ainda tenho
alguns anos até os quarenta e poucos – idade mais ou menos máxima no
nosso imaginário de poder ser mãe biológica. Assim me pego calculando
para além do meu relógio sazonal flexível que varia dos trinta aos
trinta e cinco. Nesse tal de relógio, não tem relatividade.
Hoje, eu, assim como uma parte enorme das mulheres sem filhos aos trinta, não
penso em ser mãe. Também não acredito que quando o relógio biológico
bater, a vontade vai emergir de um mundo cor de rosas. Pode ser que não
mude nada, mas nossa culpa cristã e o medo do estigma nos obrigam a
mudar de ideia. E tudo isso é muito cruel e perverso.  Eu entendo e
respeito aqueles que dizem que a maternidade é um amor inigualável e
inenarrável. Eu não tenho dúvidas disso. Eu mesma recebi um desses
amores de sacrifício de minha mãe, que abriu mão de muitas coisas para
me criar – como a maioria das mulheres de sua geração. Eu não quero
abrir mão de nada. Quando eu digo que não quero abrir mão de nada, eu
apenas quero dizer: não quero abrir mão de MAIS nada.
Talvez um dia eu queira. Se eu mudar, tenho certeza que eu serei uma mãe muito plena e
babona. Hoje, simplesmente HOJE, eu não tenho a vontade de experimentar
esse amor inenarrável (são tantos amores que eu ainda tenho que
experimentar!). Essa ambivalência e indecisão tem que ser parte do
direito de escolha e não pode apressada pelo machismo-nosso-de-cada-dia
em que tentam me enfiar goela abaixo a ideia de que ser mãe é padecer no
paraíso. Não pode ter hora para essa decisão, porque se nossos óvulos
envelhecerem e sequer podemos congelá-los, temos que lembrar que a
biologia não é tudo e que existem muitas formas de exercermos o direito à
maternidade.
Eu quero ter o direito de, em meio a uma vida de
tantas privações pessoais para chegar perto de onde eu queria
profissionalmente (um ponto em que, diga-se de passagem, teria sido
alcançado por um homem com muito menos privações porque sempre há uma
mulher que abdicará de seus sonhos profissionais para acompanhar os
parceiros), poder escolher. Eu quero ter o direito de continuar me
sentindo jovem e fazer coisas que não fiz quando eu achava que currículo
lattes era uma coisa importante. Eu quero ter o direito continuar
escolhendo a minha idade. Quero dizer que tenho dezoito anos quando
passear de moto por Bali, quando invadir um College de madrugada em
busca de uma pirâmide encantada, quando quebrar a vidraça de um banco ao
sentir raiva do mundo capitalista.
O direito de ser mãe ainda tem muito a ser batalhado em nossa sociedade mercantilizada: direito de licenças, de parto normal, de fazer um aniversário infantil sem
contratar a Xuxa que chegará em uma nave espacial (ou de contratar se
for o caso), o direito de trabalhar, de se locomover, de ser mãe e não
sentir culpa por às vezes ter se questionado sobre isso. O direito que
temos de ser mãe em uma sociedade igualitária e justa é também o direito
de não ser mãe, não por egoísmo, mas pela pura sensação de que ainda há
uma ilha no pacífico para percorrer de moto. Eu não sei qual direito eu
quero, mas sei que quero ter o direito de escolher.
Eu quero ser livre para escolher a minha matern(idade)."

O texto foi originalmente publicado no site da antropóloga Rosana Pinheiro-Machado, segue o link https://rosanapinheiromachado.wordpress.com/2014/03/09/maternidade/