terça-feira, 20 de abril de 2010

Encontro Nacional de Estudos de Consumo

Chamada para resumos, animem-se!



segunda-feira, 19 de abril de 2010

O dia D: A defesa

Finalmente após árduo trabalho, cheguei ao fim do mestrado, defendo a dissertação semana que vem, e estou feliz com o encaminhamento dado.

Vejam o resumo



Atirei o pau no ‘gato’
Uma análise sobre consumo e furto de energia elétrica(dos “novos consumidores”)em um bairro popular de São Gonçalo - RJ
RESUMO
O presente trabalho teve como objetivo investigar um fenômeno sócio-técnico com dimensões culturais abrangentes em nossa sociedade: os chamados "gatos" – ligações irregulares – para obtenção de energia elétrica. No estudo em questão, tratou-se de observá-lo a partir de sua relação direta com o aumento do consumo de bens duráveis e a mudança de estilo de vida de um determinado grupo social. Na condição de funcionária de uma empresa concessionária de energia elétrica, pude iniciar um projeto de pesquisa de cunho etnográfico visando a entender as motivações que levavam os indivíduos a praticarem o "gato" de energia elétrica. Para tanto, realizei trabalho de campo no município de São Gonçalo, localizado na região metropolitana do Estado do Rio de Janeiro, no bairro denominado Coelho, onde residi por oito meses. Como moradora, pude penetrar na vida do bairro e analisar o estilo de vida de um grupo de moradores considerado "a elite local", que, àquela época, fazia parte de um contingente mais amplo da população brasileira que estava adquirindo visibilidade pública, sendo denominado pela mídia como "novos consumidores". Devido ao aumento da renda, à política de juros baixos e aos financiamentos facilitados a partir do Plano Real, estes "novos consumidores" obtiveram mais acesso a bens duráveis, especialmente eletroeletrônicos, elevando assim seu status perante seus iguais. Por meio do consumo, eles almejam inclusão em outro estrato social, as camadas médias urbanas. No entanto, este projeto de mobilidade social não encontrou ressonância na empresa concessionária. Aparentemente desconhecendo pesquisas recentes sobre os "novos consumidores" e partindo da lógica hierárquica existente na sociedade brasileira, a empresa caracterizou sua atuação por uma lógica truculenta de controle, vigilância e punição em relação aos seus usuários. Nenhum projeto de responsabilidade social ou de "inclusão social" foi desenvolvido no sentido de se conhecer melhor os novos hábitos de consumo adquiridos, garantir a esta população seu direito básico de fornecimento e compatibilizar o aumento do consumo de energia elétrica do grupo de forma condizente às suas capacidades de pagamento. Assim, apesar de atemorizados pela vigilância e punição, bem como pelos cortes de fornecimento e multas muitas vezes descabidos, a prática do gato permaneceu comum em todos os setores – comercial, residencial, industrial – independente do nível hierárquico ao qual pertencem. Para tanto, os usuários utilizam táticas (usos e contra-usos da energia elétrica) para combater as estratégias empresariais duras e inflexíveis, a partir de lacunas encontradas no próprio sistema. A política de terceirização dos serviços adotada pela empresa acabou mostrando-se a principal aliada dos usuários; estes encontram no profissional terceirizado um aliado importante, isto é, um "gateiro" altamente profissionalizado e um dos atores e alimentadores interessados do próprio "mercado do gato", que funciona paralelamente, de forma clandestina. A opção por este mercado são as condições de trabalho: mal remunerados, desvalorizados e muitas vezes sabendo que a empresa não cumpre seu papel social, conseguem dessa forma melhorar seus rendimentos, amenizar a exploração de sua mão-de-obra e garantir a energia àqueles que os contratam.

PALAVRAS-CHAVE: “GATO” DE ENERGIA ELÉTRICA, CONSUMO, CONSUMO POPULAR

Banca Examinadora:

Profª. Drª Laura Graziela Gomes – Orientadora (UFF)
Profª. Drª Carla Fernanda Pereira Barros - Co-orientadora (Depto de Estudos Culturais e Mídia UFF/ ESPM)
Profª. Drª Letícia Helena Medeiros Veloso (Depto de Sociologia - UFF)
Profª. Drª Cláudia da Silva Pereira (Depto de Comunicação Social PUC – RJ)

quinta-feira, 8 de abril de 2010

As duas enchentes do Jabor

Pausa para protesto:

No Rio de Janeiro há duas enchentes, duas. Uma delas é drama. Atingiu a mim, por exemplo, que moro na Lagoa e fiquei ilhado. Chato, muitos outros perderam a hora, tiveram de andar de barquinho, carros boiando. Super chato.

A outra enchente é a tragédia. Barracos deslizando, famílias morrendo na lama. A catástrofe natural ilumina a catástrofe social. As pessoas não estão lá por imprudência, como dizem as autoridades, “ah, não medem o perigo”.

Não são imprudentes, são pobres, não tem onde morar com segurança. A diferença entre drama e tragédia é que tragédia se encerra com a morte inevitável. No Rio há um tipo de tragédia que se repete como um drama sem fim.

O Rio fica mais visível não a luz do sol, com barquinhos na baia a deslizar. O Rio fica mais claro na chuva. Vemos a verdade que se esconde na paisagem. Uma cidade com a grande maioria de pobres e desamparados, a mercê de décadas de governantes irresponsáveis e corruptos.Mas eles estão tranquilos, suas fichas sujas jamais serão exibidas, como vimos hoje (quarta) na Câmara Federal, que adiou o desejo de um milhão e meio de brasileiros.

Os irresponsáveis são até abraçados por político em campanha. Eles só esperam as águas baixarem e as notícias sumirem. Até outra tragédia em que a culpa é dos mortos

Arnaldo Jabor, Jornal da Globo, 07/04/2010