sexta-feira, 17 de julho de 2009

O que é ter estilo?

No mundo contemporâneo ouve-se muito a expressão "ter estilo". No mundo da moda "ter estilo" é ser qualificado esteticamente para criar, customizar, desenvolver looks diferenciados.

O conceito tem sido usado no mundo da moda para se referir a uma qualidade pessoal, única e intransferível, ligada a personalidade e à atitude de homens e mulheres. Segundo Sabino(2007), vender estilo ou possuir estilo passou a ser uma obsessão de fashionistas e profissionais do setor desde meados dos anos 80.

possuir estilo é conhecer-se a si mesmo

(chamada de uma matéria do Caderno B do JB em 1987)

Estilo pode designar um conjunto de elementos que caracterizam uma determinada expressão ou época, tanto na moda quanto na arquitetura e decoração.



No dicionário Michaelis encontramos o seguinte:

"Feição especial, caráter de uma produção artística de certa época ou certo povo. Hábito, prática, praxe, costume. Maneira especial de exprimir os pensamentos, falando ou escrevendo. Maneira de dizer, escrever, compor, pintar ou de esculpir de cada um"



MODA e ESTILO


Moda conjuga recepção e produção, essa última não está somente ligada a produção do estilista, mas também refere-se a atuação que está presente na própria dinâmica do consumo contemporâneo, no qual o consumidor é seu próprio estilista.

Ao acentuar a relação entre o artista e a sua arte, o autor ilumina o fato de que, ao produzir, o autor produz também o seu modo de produzir, no caso, o seu estilo, em um diálogo constante com a matéria prima, ele cria a sua marca, e no caso da moda, a sua identidade visual.

Acaba por assim criar a sua artisticidade, uma vez que é preciso uma qualidade artística para sua realização.

O artista desce do pedestal da pura inventividade e assume também a condição de padecimento, ao se deixar conduzir pela obra (ele se condiciona por ela, ele cria amarras que vão prendê-lo a aquele estilo)

Podemos reconhecer uma certa dimensão de artisticidade em muitos empreendimentos tanto da Alta Costura como do prêt-à-porter, sem falar das customizações feitas pelo próprio usuário. Podemos identificar determinados estilistas através de suas criações, as saias Dior, ou as bolsas Chanel são exemplos disso.

O estilo como modo de formar:

- o próprio trabalho de cortar, moldar, desenhar já tem um caráter de artisticidade;
- o consumidor hoje tem a possibilidade de “produzir”, executar o seu próprio look;

Nesse cenário podemos destacar 3 atitudes de consumo:

1) A infidelidade em relação às marcas passou a se caracterizar como uma póstuma charmosa
2) A mistura de várias marcas é outras possibilidade de irreverência
3) O abuso do uso de peças desprovidas do estatuto das marcas tornou-se mais amplo e glamourizado. (low & high)


- tais posturas permitem uma “liberdade de escolha” do consumidor, que em última instância, começa, ele mesmo, a experimentar a aventura e o fascínio da criação, tornando-o seu próprio estilista.


O estiloso, aquele que tem estilo, aposta na diferenciação, criação, ele investe num diferencial, pode se tornar ícone e referência de moda, um formador de opinião.



“A gente quem faz a moda”


Moda não é só roupa, é atitude”


Esse processo de libertação vem se insinuando desde a década de 60, mas ganha certa radicalidade com a customização, que apareceu como reação à entediante logomania de fins da década de 90, quando tudo que importava era a grife.

“Vivia-se assim a glorificação do status de uma moda calcada em ícones de riqueza (Redley, Company, Cantão). A marca era o novo significante absoluto de identidade e prevalecia sobre o produto, que era meio de acesso à marca e sua exibição social. Verdadeira insígnia social, bastava então que o produto fosse logotipado, os consumidores, por seu lado, não procuravam mais que uma panóplia (escudo, brasão) ou uma etiqueta social a ser exibida”

(Lipovetsky, O luxo eterno)

Customização
, palavra oriunda da expressão inglesa custom made, significa ‘feito sob medida’, aparece justamente por conta da impossibilidade de se consumir marcas e , portanto, da vontade de brincar de “trabalhar”as peças, bordando, aplicando acessórios em busca de look único (diferenciação).

O consumidor contemporâneo, passa a ter um comportamento mais autoral em relação às suas escolhas, ainda que não ignore inteiramente as propostas que são lançadas no mercado pela indústria da moda, o consumidor hoje avalia, interfere, altera e brinca.


Fonte:
Cidreira, R.P.Moda e Estilo: Introdução a uma estética da moda. XVII encontro da Compós, UNIP, São Paulo, junho de 2008.
SABINO, Marco.Dicionário da Moda, Rio de Janeiro, Elsevier, 2007.